segunda-feira, 8 de abril de 2013

Um dia você ainda vai tomar vinho chinês!

Sei lá, pode ser até que você nunca prove, mas eu vou beber com certeza, e bem rapidinho: na adega de casa tem um Grace Vineyard esperando para ser aberto, um vinho butique ao que parece bem legal.  Mas quando digo que todo mundo um dia vai tomar vinho chinês não me refiro a vinhos bacanas como esse que uma amiga trouxe para mim da China, o vinho chinês que deve chegar às prateleiras dos supermercados do ocidente em um futuro próximo deve ser barato, como tudo que vem da China. Barato, no entanto, não obrigatoriamente quer dizer ruim. “Há uns 4 anos, o governo chinês resolveu desenvolver sua indústria vitivinícola”, me disse em uma conversa informal Walter Kranz, dono da vinícola catarinense Kranz e ex-presidente da Mercedes-Benz na China. “E, quando o governo chinês decide investir em algo, quer dizer: ‘Vamos ser um dos primeiros nesse setor’. Foi assim com automóvel, foi assim com caminhão. Eles absorvem know-how, tecnologia, e depois entram pesado no mercado. Por enquanto, os chineses estão aprendendo a fazer vinho. Mas, em alguns anos, devem surgir no mercado internacional com vinhos de combate, vinhos com boa relação entre qualidade e preço. O país é tão grande que deve haver bons terroirs em várias regiões.”

Na opinião da master of wine de Hong Kong Debra Meiburg, uma das maiores especialistas em vinho chinês, isso deve acontecer em uns 10 anos. “Eles estão plantando feito loucos”, diz. “Mas a qualidade da maioria da produção ainda é baixa. O governo está incentivando a intensificação das plantações. Não entendeu ainda que, no caso do vinho, menos é mais (ela está se referindo ao fato de que os melhores vinhos vêm de plantações de baixo rendimento).”  Mas, é claro, tem gente interessada em produzir bons vinhos na China também. Dois exemplos bem sucedidos são a tal da Grace Vineyard e a vinícola HeLan Qing Xueo, cujo tinto Jia Bei Lan 2009 Cabernet venceu um concurso da revista inglesa Decanter. 
Em 2010, a China produziu 10,9 milhões de hectolitros (um quinto da produção francesa) de vinhos e tinha cerca de 40 mil hectares de vinhas plantadas. Mas Debra questiona esses números. “As estatísticas oficiais não separam as bebidas alcoólicas por tipo”, diz. “Então, ninguém sabe quanto eles produzem de fato”. Imigrantes alemães fazem vinho na China há mais de 200 anos anos na região de Shandong (leste), mas, como no Brasil, os colonizadores não escolheram o melhor terroir. A região é muito úmida. Os vinhos mais modernos têm vindo de zonas novas, como Shanxi (região da Grace Vineyard) e Ninqxia, entre Pequim e o Nepal, a mais excitante segundo a crítica inglesa Jancis Robinson. O grande produtor (em termos de quantidade) é a vinícola Dinasty.
Por enquanto, no entanto, a China não tem expressão como produtora, é principalmente um imenso mercado sedento por vinho, sendo uma grande importadora. O consumo per capita anual gira em torno de 1,5 l -- menor que o brasileiro (1,8 l). No entanto, multiplicando 1,5 l por 1,34 bilhões de habitantes temos um mercado de mais de dois bilhões de litros por ano. Os chineses estão  fascinados por vinho tanto que, ainda neste mês, uma rede de TV local deve estrear Wine Beauty, novela cuja trama central gira em torno dos conflitos de uma jovem sommelière e um grande grupo vinícola, provavelmente inspirado na vinícola Dinasty, o maior produtor da China continental. Pelo trailer, só posso dizer que espero que os chineses sejam melhores em vitivinicultura do que são em teledramaturgia. Dê uma olhada!


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