segunda-feira, 8 de abril de 2013

Um dia você ainda vai tomar vinho chinês!

Sei lá, pode ser até que você nunca prove, mas eu vou beber com certeza, e bem rapidinho: na adega de casa tem um Grace Vineyard esperando para ser aberto, um vinho butique ao que parece bem legal.  Mas quando digo que todo mundo um dia vai tomar vinho chinês não me refiro a vinhos bacanas como esse que uma amiga trouxe para mim da China, o vinho chinês que deve chegar às prateleiras dos supermercados do ocidente em um futuro próximo deve ser barato, como tudo que vem da China. Barato, no entanto, não obrigatoriamente quer dizer ruim. “Há uns 4 anos, o governo chinês resolveu desenvolver sua indústria vitivinícola”, me disse em uma conversa informal Walter Kranz, dono da vinícola catarinense Kranz e ex-presidente da Mercedes-Benz na China. “E, quando o governo chinês decide investir em algo, quer dizer: ‘Vamos ser um dos primeiros nesse setor’. Foi assim com automóvel, foi assim com caminhão. Eles absorvem know-how, tecnologia, e depois entram pesado no mercado. Por enquanto, os chineses estão aprendendo a fazer vinho. Mas, em alguns anos, devem surgir no mercado internacional com vinhos de combate, vinhos com boa relação entre qualidade e preço. O país é tão grande que deve haver bons terroirs em várias regiões.”

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Para entender melhor os hermanos

Dizem que os europeus nascem entendendo de vinho. Nada! O sujeito da Borgonha nasce entendendo de vinho da Borgonha, o do Piemonte, entendendo de vinho do Piemonte. Eles sabem quem na vizinhança é mais caprichoso, quem é meio picareta, quem é esforçado, mas tem um pedaço de terra que não ajuda, e quem tem mãos de ouro e um vinhedo abençoado. É como o sitiante mineiro que, por mais simples que seja, não hesita ao indicar o melhor produtor de queijo de sua região. Dê apenas 15 minutos e poucos  euros para um piemontês médio comprar um vinho em uma loja de Dijon e, aposto, ele sairá com algo muito aquém do que está acostumado a beber em casa pelo mesmo preço. Comprar vinhos é muito difícil! Há uma infinidade de variáveis envolvidas na escolha, pois, apesar de o consumo ter se tornado globalizado, a produção de vinhos (ou, pelo menos, de alguns dos melhores deles) ainda é muito fragmentada em mínimas localidades cheias den peculiaridades
Eu confesso que, até hoje, entrar em uma loja de vinhos no exterior (ou mesmo em grandes lojas no Brasil) é algo um pouco angustiante, me sinto como se estivesse diante de um tesouro escondido em meio a várias pedras falsas: as chances de eu reconhecer as verdadeiras joias não são grandes. Para isso, graças a Deus, existem os críticos e seus guias. As pessoas falam muito mal do Robert Parker, o crítico americano que popularizou o sistema de pontos, dizem que ele só gosta de um estilo de vinho, que leva os produtores a alterarem seus vinhos para agradá-lo, mas, quando você entra correndo em um supermercado para comprar um tinto para o jantar na casa de amigos daí a dez minutos, é um grande conforto se deparar com uma garrafa de preço razoável acompanha de uma etiqueta que diz "91 pontos RP".

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Os mistérios de Montalcino

A pequena Montalcino, na Itália, costuma aparecer com frequência nas páginas de turismo e gastronomia de jornais e revistas do mundo todo por causa de seu famoso vinho brunello di Montalcino. Em dezembro de 2012, no entanto, a região ocupou as páginas policiais com uma curiosa história: um ex-funcionário invadiu a vinícola Case Basse di Soldera e despejou mais de 60 mil litros do brunello di Montalcino que é considerado por muitos como o melhor da denominação. Na época, o proprietário anunciou que teria perdido todo o vinho produzido entre 2007 e 2012. Na semana passada, o proprietário veio a público dizer que salvou pequenas parcelas de cada safra. Resta agora saber quanto de cada safra, quem terá acesso a elas e a que preço...

Degustar é preciso

Como disse no post anterior, só abrindo a garrafa e tomando o vinho para ter certeza de que ele é assim ou assado. Foi o que eu fiz com algumas garrafas de tintos que eu supunha que pudessem ser bacanas para o verão. A escolha não foi aleatória, passei por várias lojas e importadoras buscando vinhos com as características desejáveis. Quando vou comprar uma garrafa para uma situação específica, imagino o que seria ideal, procuro entender o que as palavras e os números dos rótulos significam e tento associar esse monte de informações a meu repertório de aromas, sabores e sensações táteis.  Sei que, para a maioria das pessoas, repertório de aromas e sabores é uma tremenda frescura. Mas, por menos consciência que tenha disso, todo mundo tem na memória vários cheiros: de frutas, flores, ervas. Puxar essas informações da memória, contudo, nem sempre é tão fácil. Por isso, além de servir para indicar alguns rótulos bons para o verão, espero que este post sirva como um exercício de degustação. Degustar não é simplesmente beber, é reparar na aparência, nos aromas, se o vinho é doce ou seco, mais encorpado ou menos encorpado e uma série de outros detalhes.(continua)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

vinho tinto na geladeira?


Uma vez perguntei ao chef César Santos, do Oficina do Sabor, em Olinda, qual tinto era mais apropriado para o clima quente do Nordeste. "Qualquer um", ele me respondeu. "A gente toma vinho em ambientes com ar-condicionado". Reconheço que a pergunta foi meio malfeita, mas se refrigeração ambiente fosse a única solução para encarar um  vinho tinto em dias muito quentes, de outubro a abril eu só tomaria tinto em (alguns) restaurantes. A minha casa não tem ar-condicionado, assim como a casa da maioria dos meus amigos e de mais de 90% da população de São Paulo (se bem que, com com as temperaturas escaldantes dos últimos dias, muitos paulistanos, como eu, devem estar repensando essa opção). Alguns anos e muitas taças mais tarde, hoje sei que, graças a Deus, no entanto, existem tintos que não batem de frente com o clima tropical.
Sei que no último post eu disse que o brasileiro precisa aprender a tomar vinho branco e continuo achando que a melhor escolha para a beira da piscina ou para um jantar numa noite abafada é um bom branco, mas passar o verão inteiro sem tomar tinto também não dá. Só que experimente beber um shiraz australiano num almoço no jardim debaixo de um sol forte! Você vai passar mal. Eu, pelo menos, passo, principalmente se estiver comendo algo pesado, como seria justo para acompanhar um shiraz australiano. Muitos vão alegar que estão acostumados a fazer isso. Pode ser, mas às vezes, mesmo passando mal, a gente insiste até o ponto em que o álcool na cabeça faz esquecer qualquer queda de pressão ou sensação inicial de estômago estufado. Isso é auto-flagelação. Ninguém precisa se maltratar assim! Não quer tomar branco nem muito menos rosé? Basta escolher tintos mais leves. A seguir alguns pontos que podem os "tintófolos" a descobrirem se estão diante de um vinho leve antes de abrirem a garrafa. Não é uma fórmula mágica, são pistas, porque só provando é possível saber como é um vinho. Num próximo post, vou apresentar o resultado de uma degustação de tintos de verão que fizemos na redação. (continua)

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

por um natal mais leve


Entre os brancos, também podemos optar por vinhos mais leves ou mais pesados. Na verdade, uma mesma uva pode produzir vinhos de vários estilos. O quadro acima mostra a diferença de cores entre um chardonnay da região de Chablis (Borgonha, França) e outra do Napa Valley (Califórnia, EUA). A diversidade não se restringe à cor: o chardonnay de Chablis costuma ser muito mais fresco que o de Napa, porque passa menos tempo na madeira

Apesar do o calor, os brasileiros insistem em tomar vinhos tintos encorpados e torcem o nariz quando alguém sugere um branco. As pessoas por aqui têm preconceito com vinho branco. Quando comecei a beber vinho, boa parte dessas pessoas adorava o vinho branco docinho alemão (ou pior, tipo alemão) da garrafa azul. Não queria saber de tinto. Aí, alguém contou para elas que aquele vinho era uma porcaria e que o bacana era beber vinho tinto. Com certeza, foi alguém que sabia só um pouquinho mais de vinho do que elas. Gente, quem diz que vinho de qualidade tem de ser tinto não entende nada do assunto.  Afirmar que vinho branco não presta é o mesmo que dizer que sorvete para ser bom tem de ser de chocolate.  Não se pode confundir o tipo do vinho com a sua qualidade. Assim como há tintos memoráveis, há grandes brancos: um grand cru de Montrachet (sub-região da Borgonha, na França), por exemplo, é um vinho que pode ser guardado por décadas e, dependendo do prestígio do produtor, chega a custar bem mais de mil reais por garrafa.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

ano novo com harmonia


Na semana passada, ainda sem saber qual a programação para o meu Reveillon, comprei dois espumantes: um champanhe Piper-Heidsieck e um cremant de Borgogne rosé de um produtor que gosto muito, o Parigot.  Não sigam o meu exemplo. Quando se trata de escolher um vinho para uma festa, compras às cegas, por impulso, sem conhecer detalhes do evento, é uma manobra arriscada: você pode acabar sendo obrigado a beber ou servir um vinho que não tem nada a ver com a comida ou o ambiente. Mesmo no caso dos espumantes, considerados extremamente versáteis, fáceis de combinar, o melhor é primeiro descobrir exatamente como será a festa ou jantar e, depois, comprar o vinho.